sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Luanda

É a minha segunda vez em Luanda. Tem sido uma experiência engraçada. Lembro-me de ter tido no ano passado que não queria vir a Angola… e o destino ditou que viesse cá parar, por períodos superiores às minhas anteriores saídas de Portugal. Neste caso, qualquer imagem vale por mil palavras. Acima de tudo, penso que é uma experiência enriquecedora a nível pessoal.

Lembro-me da primeira imagem que vi quando a porta do avião abriu depois de ter aterrado em Luanda. A terra alaranjada, ao fundo uma imensidão de casas pré-fabricadas, os museques, e senti pela primeira vez aquele cheiro, abafado, quente, de Luanda. “Pronto, já cheguei, é mesmo verdade”.

O centro de Luanda é caótico, um rodopio de carros e pessoas, um caos no trânsito. Um aglomerado de jovens, alguns numa tenra idade, tentam, de carro em carro, a sua sorte na venda de qualquer objecto (um dia quiseram-nos vender um mapa da cidade de Luanda, daqueles que mais não são do que um conjunto enorme de publicidade, por 800 Kwanzas, cerca de 8€... papel que é distribuído de borla algures), mesmo os mais impensáveis: conjuntos de ferramentas, berbequins, cabides, mata-moscas eléctricos, vestidos, leitores de DVD, ferros de engomar, tapetes de sala, etc. Nesta confusão de trânsito chego a demorar cerca de 30 minutos para fazer 1 km, do hotel ao escritório. Como eu gostaria de poder ir a pé... Ah, e o engraçado é que na rua onde passo todos os dias para ir trabalhar, ao lado e por baixo de prédios todos sujos e partidos, encontra-se uma muito pouco singela loja da Hugo Boss. Nada mau.

Por outro lado, agora vê-se grandes construções, grandes edifícios, na maioria construídos por empresas portuguesas, o que mostra bem o investimento que se faz nesta cidade. Esta cidade está completamente em obras. Tenho pena é que o povo não sinta nas suas vidas essa evolução... As eleições legislativas são já no próximo dia 5 de Setembro e, tal como em Portugal, várias são as estradas que estão a ser alcatroadas. Mas deve ser apenas coincidência. Na imagem em baixo está um imbondeiro, a árvore mítica angolana.

Assim que as pessoas nas ruas vêem que estamos a tirar fotografias, vêm logo ter connosco a barafustar, desconfiados, especialmente os polícias, que não perdem oportunidade para sacar mais uma gasosa. Aqui também a corrupção na polícia é enorme.Por alguma razão a maioria das fotos que se podem encontrar na net em blogs sobre Luanda, são tiradas dentro dos carros :)

É uma cidade cheia de contrastes, onde se encontram carros topo de gama nas ruas, a maioria, cheias de buracos. Nem sei como ainda se vêm alguns sem qualquer mossa. E depois há os candongueiros, pessoal que tem uma carrinha pintada de azul e branco que têm lotação para 9 (ou será 19?!!) e cobram cerca de 50 kwanzas para uma viagem… é claro que não há paragens, há sim uma rotina diária, um local onde já se sabe que irá estar um candongueiro que se dirige para certo sítio.

Luanda à noite tem um certo encanto, uma certa magia, confesso, que se desvanece quando me lembro de Lisboa. Mesmo de dia, quando se tem a vista para a baía, Luanda parece outra. Ao sentar-me numa das cadeiras do "Cais de 4", um restaurante muito cool, mesmo por cima da água que banha a baía, aí sim, é como se estivesse uma grande capital mundial de turismo. Tudo tem um preço e este “luxo” custa-nos umas belas dezenas de dólares. Outro local que me encanta é o "Chillout " (dá para matar a curiosidade em – http://www.chillout-luanda.com, um site com muito nível, construído por uns colegas da minha equipa… e não me pagaram para dizer isto, apesar de estarmos em Angola), com uma noite incrível. Lá dança-se pela noite dentro até com chuva (e sabe mesmo bem!).

Insegurança… bem, eu ligo todos os dias de manhã a TV na RTP África (senão deixo-me dormir), para ver as notícias de Portugal e a primeira coisa que oiço é que ontem houve mais assaltos, mais casos de carjacking, mais tiroteios na Quinta da Fonte, etc. etc.… em Portugal!

4 comentários:

Sadino disse...

Insegurança... De facto seria uma discussão interessante. Eu aqui vou a uma cidade qualquer (mesmo em Santiago) e ando sozinho à noite na rua, mesmo em ruas escuras e pouco movimentadas e sinto-me mais seguro que em Setúbal ou Lisboa.

Não sei se tu sentes isso aí em Luanda, mas eu acho que há uma tendência para se ser mais ousado quando se está fora de Portugal, a auto-confiança aumenta e perdemos algum medo de enfrentar potenciais problemas. Isso e o facto de seres estrangeiro e os mitras não saberem como podes reagir, o que cria um certo "respeito" da parte deles também.

Agora, as fotos das mulatas é que não saem...

Unknown disse...

Mulatas????? Que raio de conversa é essa? bem, bem...

Qt à insegurança, acho que esse dito "respeito" tem a ver com o teu (sadino) mau aspecto! :P eheheh

Sadino disse...

Apah Joana, abrre já a boca! Por acaso, costumo dar-me um certo ar mitra, capuz e tal, falta-me cravar a pirisca... A melhorar no futuro!

No meu blog não comentas tu, mas aqui para dizer falsidades estás prontinha!! Hás-de cá vir!

Hugo disse...

O respeito que falas não existe em Luanda. A vida humana não tem qualquer significado. As pessoas, os jovens essencialmente, são muito violentos e, verdade seja dita, o que é que eles têm a perder?

Mas sim, quando estamos fora ganhamos um certo à vontade para andarmos nas ruas, sozinhos e sem demasiadas preocupações... não sinto tanto isso em Luanda como nos outros países onde estive. Aí, até as velhinhas mudam de passeio quando nos vêem.